Na barriga ela fazia uma bagunça imensa. Decidiu quando ia nascer, 3 semanas antes do previsto, só pra mostrar quem mandava na parada. E já nasceu se esgoelando de tanto chorar, pra dar aquele choque de realidade para os pais novatos. Hipotonia? Há, só os mais habilidosos conseguiam trocar a fralda daquela recém nascida que mais parecia uma perereca! Esse bebê parece um anjinho caído do céu para você? Pois é, pra mim também não 🙂
Na imagem: Alice fantasiada de anjo, com os dizeres: Anjinha? Sabe nada, Inocente! 🙂
Sabem, eu estou há um tempo querendo escrever este post. Tenho um pouco de receio de escrever temas ~polêmicos~ aqui no blog, pois gosto de manter o astral do NVCA leve e alegre. E eu acredito que cada família tem seus valores, sua realidade, e longe de mim querer impor minhas opiniões na criação de outras crianças. Não tenho nem formação para isso 🙂 Mas algo que eu sempre tive vontade de debater aqui no blog é sobre o grande mito de que todas as crianças com SD são “Anjinhos”.
Se ser um anjo é ser uma pessoa sem defeitos, acima do bem e do mal, superior, não tenho o mínimo interesse de que a bebê pig seja chamada assim. Que pressão enorme para uma criança, ser considerada perfeita e sem defeitos. A Alice não é um anjinho, ela é uma criança normal, sapeca, como qualquer outra. É uma figura e tem uma personalidade que só. Conseguir vesti-la é um desafio. Aprendeu rapidinho a usar seu charme para conseguir o que quer.
Aliás, eu tenho o prazer de conviver com algumas crianças com síndrome de Down, e entre o que derruba energético na cabeça um minuto antes de sair de casa, o outro que estica o pé para o amiguinho tropeçar e cair (para citar alguns exemplos rápidos que vieram em minha cabeça), posso dizer que são pessoas comuns, com seus defeitos e qualidades, aptidões e deficiências.
O perigo de encarar uma pessoa como perfeita, incapaz de cometer erros, é que nós podemos cair equívoco de não a disciplinarmos corretamente, de a infantilizarmos, de não educarmos um cidadão que faça parte da sociedade, com noções de economia, educação sexual, deveres e responsabilidades. E criança, independente de ter deficiência intelectual ou não, é um serzinho bem inteligente, sabe? Se ele nota que está sendo tratado de forma diferente, logo arquiteta em como usar isso ao seu favor. 😉
E como será que o irmãozinho, priminho, coleguinha desse “anjinho” se sente, ao ser deixado de fora desse pedestal? Será que ele não se sente inferiorizado? Será que ele não transmitirá esse ressentimento para a outra criança? São questões a se pensar. Não quero desrespeitar a crença e religião de ninguém. Se você considera que crianças são anjos e presentes de Deus, acho o pensamento maravilhoso, mas principalmente quando inclui todas as crianças.